Crianças, Redes Sociais e “Brain Rot”: Como o Conteúdo Viral Prejudica a Saúde Mental
5/27/20256 min ler


Neste artigo, exploramos como o "brain rot" está relacionado ao funcionamento dos algoritmos, os impactos na saúde mental e cognitiva, exemplos clássicos de memes que ilustram o fenômeno e estratégias práticas para mitigar seus efeitos. Você pode não saber o que é, mas seu filho provavelmente sabe. Entenda como os memes absurdos e violentos do TikTok estão influenciando o comportamento e o bem-estar mental de crianças e adolescentes.
O termo "brain rot", ou "apodrecimento cerebral", tem ganhado força como uma metáfora para o impacto do consumo excessivo de conteúdos digitais superficiais, como vídeos curtos e memes virais. Embora inicialmente usado de forma humorística, o conceito reflete preocupações reais sobre como os algoritmos das redes sociais promovem comportamentos viciantes e prejudicam a saúde mental, especialmente entre jovens. Este artigo explora como o "brain rot" está relacionado aos algoritmos, dá exemplos de memes clássicos e oferece estratégias para mitigar seus efeitos.
O que é "brain rot"?
"Brain rot" não é um termo médico, mas descreve o declínio cognitivo e a exaustão mental causados pelo uso excessivo de plataformas digitais. Ele está associado a comportamentos como:
Doomscrolling: Rolagem compulsiva por notícias negativas.
Zombie scrolling: Consumo passivo e interminável de conteúdo sem propósito.
Dependência de memes e vídeos curtos: Formatos que priorizam estímulos rápidos e gratificação instantânea.
Esses comportamentos são alimentados por algoritmos projetados para otimizar o tempo de permanência dos usuários nas plataformas. A cada curtida, comentário ou compartilhamento, os algoritmos aprendem mais sobre os interesses dos usuários e entregam conteúdos que reforçam esses comportamentos.
O papel dos algoritmos no "brain rot"
As redes sociais, como TikTok, Instagram e YouTube, utilizam algoritmos sofisticados para personalizar o conteúdo exibido aos usuários. Esses sistemas se baseiam em dados como curtidas, comentários e tempo de visualização para oferecer conteúdo altamente viciante. O problema é que:
1- Promovem estímulos rápidos e repetitivos (Personalização viciante):
Vídeos curtos no TikTok, como os famosos trends de dancinhas, são projetados para prender a atenção em segundos.
Memes virais, como o clássico "Shrek is Love, Shrek is Life", ilustram como conteúdos absurdos e engraçados capturam a curiosidade e promovem compartilhamentos em massa.
2- Criam loops de dopamina (Gratificação instantânea):
Cada curtida, comentário ou notificação gera uma pequena recompensa emocional, incentivando o uso contínuo.
Plataformas como Instagram Stories e o "For You Page" do TikTok são exemplos de como algoritmos mantêm os usuários engajados.
3- Reforçam o consumo de conteúdo superficial:
Os algoritmos priorizam conteúdos de fácil consumo, o que reduz a exposição a materiais mais profundos e educativos.
Isso contribui para a chamada "sobrecarga cognitiva", onde o cérebro é bombardeado com informações irrelevantes, dificultando o foco e a retenção de conhecimento.
Exemplos de memes que refletem o "brain rot"
Os memes, embora divertidos, são um exemplo clássico de como o "brain rot" se manifesta. Aqui estão alguns exemplos icônicos:
"Shrek is Love, Shrek is Life": Este meme viral é um exemplo de humor absurdo que se espalhou rapidamente, ilustrando como conteúdos bizarros podem capturar a atenção de milhões.
"Distracted Boyfriend Meme": Um dos memes mais compartilhados, que exemplifica como imagens simples e contextos engraçados podem se tornar fenômenos globais.
"TikTok Trends de Dancinhas": Vídeos curtos que se tornam virais em questão de horas, incentivando a repetição e o consumo contínuo.
Esses exemplos mostram como conteúdos aparentemente inofensivos podem contribuir para o "brain rot" ao incentivar o consumo contínuo e a desconexão de interações mais significativas.
Memes Italianos Brainrot: Surrealismo e Choque Digital
Os memes italianos brainrot viralizaram em 2024 no TikTok por sua estética surreal, absurda e frequentemente violenta ou caótica. Criados muitas vezes por IA, misturam animais, objetos e cenários improváveis, tornando-se símbolos do consumo exagerado de conteúdo sem sentido.
Além do humor nonsense, esses memes passaram a representar situações de violência, destruição, batalhas e caos, com comunidades online criando narrativas específicas e repetindo personagens em contextos extremos para reforçar o apelo do choque e da viralização.
Exemplos e significados:
Tralalero Tralala: Tubarão com pernas humanas e tênis, simbolizando situações bizarras.
Bombardino Crocodilo: Crocodilo com corpo de avião bombardeiro, associado a destruição e guerra.
Lirili Larila: Elefante-cacto com sandálias, representando o surrealismo extremo.
Ballerina Cappuccina: Xícara de cappuccino bailarina, trazendo leveza e ironia.
Chimpanzini Bananini: Chimpanzé-banana, reforçando o nonsense.
Tung Tung Tung Sahur: Tronco antropomórfico, remetendo a rituais e repetições absurdas.
Cappuccino Assassino: Xícara-samurai, com elementos de violência caricata.
Brr Brr Patapim: Macaco com pés desproporcionais, em narrativas absurdas.
Apesar do tom cômico, muitos desses memes são usados em contextos de violência explícita e caos, gerando debates sobre os limites do humor digital e o impacto desse conteúdo, especialmente entre jovens. O fenômeno reflete a busca por estímulos intensos e o choque visual, servindo tanto como escape quanto como possível dessensibilização diante de temas sensíveis.
Impactos do "brain rot" na saúde mental
O consumo excessivo de conteúdos digitais e a influência dos algoritmos podem levar a:
1- Declínio cognitivo:
Redução da atenção: O consumo constante de vídeos curtos e memes reduz a capacidade de concentração em tarefas mais complexas.
Memória prejudicada: A sobrecarga de informações dificulta a retenção e recuperação de dados importantes.
Perda de habilidades de resolução de problemas: A dependência de conteúdos superficiais diminui a flexibilidade cognitiva.
2- Problemas emocionais:
Ansiedade e depressão: A exposição constante a padrões irreais de beleza e sucesso nas redes sociais aumenta sentimentos de inadequação e baixa autoestima.
Comparação social negativa: O consumo de conteúdos que destacam as "melhores versões" da vida de outras pessoas contribui para a insatisfação pessoal.
3- Isolamento social:
O uso excessivo de dispositivos digitais substitui interações presenciais, levando ao isolamento e à desconexão emocional.
Crianças e adolescentes frequentemente enfrentam cyberbullying, que pode causar danos emocionais e psicológicos duradouros.
Como mitigar os efeitos do "brain rot"?
Embora os algoritmos sejam projetados para maximizar o engajamento, é possível adotar estratégias para minimizar os impactos negativos:
1- Pratique o "detox digital":
Desative notificações e estabeleça horários específicos para usar redes sociais.
Faça pausas regulares e desconecte-se completamente por algumas horas ao dia.
2- Curadoria de conteúdo:
Siga perfis que promovam positividade e aprendizado.
Evite consumir conteúdos sensacionalistas ou repetitivos.
3- Educação digital:
Ensine crianças e jovens a identificar os efeitos dos algoritmos e a usar a tecnologia de forma consciente.
Promova o letramento digital em escolas e comunidades.
4- Fortaleça conexões reais:
Priorize interações presenciais e atividades offline, como esportes, leitura e artes.
Estimule conversas em família sobre o uso saudável da tecnologia.
5- Use ferramentas de controle parental:
Monitore o tempo de tela e bloqueie conteúdos inapropriados para crianças.
Conclusão
O fenômeno do "brain rot" é um reflexo preocupante da era digital, onde algoritmos priorizam o engajamento em detrimento da saúde mental e cognitiva dos usuários. Embora memes e vídeos curtos sejam fontes de entretenimento e conexão social, o consumo excessivo e repetitivo pode levar a impactos profundos na atenção, memória, habilidades emocionais e interações sociais. É essencial que indivíduos, famílias e empresas reconheçam os riscos associados ao uso descontrolado de tecnologias digitais e adotem práticas conscientes para equilibrar o consumo online com atividades significativas offline.
O problema é que, por trás do humor nonsense, está um padrão crescente de dessensibilização, consumo compulsivo e banalização da violência. O que parece apenas "engraçado" esconde uma dinâmica de estímulo constante e repetitivo, com impactos diretos sobre atenção, regulação emocional, comportamento e percepção da realidade .
A estética do choque, do absurdo e da hiperatividade visual está sendo reforçada por algoritmos, que identificam rapidamente o que gera engajamento e entregam mais do mesmo — criando um ciclo viciante.
Na era da hiperconexão, a educação digital e o uso de ferramentas de controle parental são fundamentais para proteger crianças e adolescentes, enquanto estratégias como o detox digital e a curadoria de conteúdo podem ajudar adultos a recuperar o controle sobre seu tempo e bem-estar. Promover conexões reais e priorizar interações humanas pode ser o antídoto mais eficaz para os efeitos negativos do "brain rot".
Referências
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